quarta-feira, 20 de maio de 2009


A arte de contar e preservar história
Crianças conhecem mais sobre Chica da Silva e outras figuras locais

Lívia Gomide - Repórter - Jornal Correio de Uberlândia

"O melhor de tudo é ver simples traços se transformarem num desenho que aos poucos ganha forma, cor e, por fim, movimento. O processo para se dar vida à história é mágico", disse Jonathan Galvier Santos, um dos 16 participantes responsáveis pela criação do DVD Anima Lendas, fruto do intercâmbio entre uma produtora uberlandense de desenhos animados e a cidade histórica de Diamantina.
Lançado oficialmente no último mês, o material foi desenvolvido em julho de 2008 por meio de uma oficina realizada no Centro Vocacional Tecnológico Chica da Silva (CVT) durante o Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais, parceira do projeto audiovisual juntamente com F7 Filmes, Associação Diamantina Sempre Viva, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e CVT.
O projeto, inspirado no rico patrimônio imaterial das lendas e dos mitos da cidade mineira de Diamantina, apresenta o curta "Sete Vezes Chica", que conta a lendária história de Chica da Silva. "Fizemos uma adaptação do livro de Marcial Ávila, inspirado nos sete pecados e nas virtudes humanas. Optamos por fazê-lo em forma de poesia para despertar o interesse do público infanto-juvenil, já que antes a personagem era mais conhecida pelo público adulto", disse Marcelo Branco, diretor de arte da F7 Filmes. O objetivo era fazer uma animação apresentando-a para as crianças, além de chamar a atenção para questões de educação patrimonial e direitos humanos.
Foi nas mãos dos jovens que as estrofes da história se transformaram em desenhos, chamados de storyboard, ganharam vozes e animações que envolveram técnicas bi-dimensional e pixilation (animação de pessoas e objetos). No lançamento, todas as escolas da rede estadual, municipal e particular de Diamantina receberam um exemplar como um produto de estímulo à leitura, à escrita, à pesquisa e ao fazer artístico.
Além da animação "Sete vezes Chica", o DVD apresenta outras lendas animadas, como Boitatá e Mula-sem-cabeça, desenvolvidas em oficinas anteriores, e o making of da produção.
Em Uberlândia, uma exibição no Teatro Rondon Pacheco está agendada para o dia 28 de outubro, Dia Mundial da Animação. Os produtores querem novas edições do DVD para distribuição e participação em festivais. O trabalho, que vem também traduzido para o inglês e o espanhol, pode ser assistido no site www.f7.com.br.
Crianças aprendem a valorizar cultura local
Para Luciano Amador Jr, coordenador dos Laboratórios de Turismo e Artesanato do Centro Vocacional Tecnológico Chica da Silva, o projeto nasceu com os objetivos primordiais de que haja uma ação permanente do ensino da cultura nas escolas, de socializar os jovens na comunidade despertando-os a conhecer, entender e a valorizar a cultura local. "Queremos que eles se identifiquem mais com o patrimônio da cidade e, consequen-temente, se tornem cidadãos mais responsáveis e incluídos no processo turístico, cultural e social da cidade", disse Luciano. Ele afirma, ainda, que, na distribuição do material para as escolas, cerca de 10 mil estudantes foram beneficiados.
Para a oficina foi feita uma seleção de jovens entre 14 e 18 anos de idade matriculados da rede pública de ensino do Município. O único pré-requisito necessário era gostar de desenhar. O CVT e a Secretaria de Cultura e Turismo fizeram a divulgação e os custos foram cobertos pelo festival. Ao todo, foram seis dias de atividades que iam desde a criação do roteiro até a etapa digital.
Trabalho exige paciência e muita observação
A palavra que melhor define a oficina para o estudante Vitor Antunes Martins da Costa, 17 anos, é animação. Em outra oportunidade, o jovem havia experimentado as técnicas para se fazer desenho animado em computador com o professor Marcelo Branco e, quando soube da chance de se envolver novamente com a arte, não perdeu tempo. "Foi muito legal e divertido participar. Todo mundo fez um pouco de tudo e aprendeu as técnicas. Da outra vez fiz até narração, mas nesta fiquei mais envolvido com o computador", disse.
Para ele, o mais difícil foi fazer os desenhos à mão, quando a equipe saiu a campo para observação. "Até que levo jeito para o negócio, mas ainda preciso aperfeiçoar muito. O mais prazeroso foi o passeio que fizemos em uma chácara de Chica da Silva para conhecer e estudar a história dela", afirmou o estudante. Já para Jonathan Galvier Santos, 15 anos, apesar de usar bastante o computador, esta foi a primeira vez que teve contato com um projeto audiovisual. Os programas de animação agradaram ao garoto. "É difícil, mas empolgante quando os desenhos ficam prontos. Tenho vontade de participar de outras oficinas, senti orgulho em ver um DVD com desenhos meus. Nunca imaginei que um dia faria isso", disse Jonathan.
Antes de entrar para os laboratórios, os adolescentes envolvidos no projeto Anima Lendas estudaram e se aprofundaram no tema que iam desenvolver. Para isso, eles foram ao museu Chica da Silva, em pontos comuns, como a estrada dos escravos onde a história aconteceu para, segundo Marcelo Branco, inspirar os jovens artistas.