sábado, 4 de julho de 2009

Arraial do Tijuco e sua vocação universitária
José Boanerges Meira

Em meio a tantas lembranças boas da nossa Terra, relembro de um tempo em que as opções em matéria de Cursos Superiores eram restritas, ficando confinadas, em especial, ao Curso de Odontologia e aos Cursos da FAFIDIA.
Na Saúde, para os mais vocacionados era o temível Curso de Odontologia. Após vencer um vestibular altamente concorrido, o neófito se debruçava em livros e livros para conseguir alcançar as médias a fim de concluir um Curso de reconhecida qualidade técnica, onde laboravam e laboram professores gabaritados, que lhes proporcionavam a fina formação técnica e humana.
Para nós outros que não éramos ungidos com os dotes da Área da Saúde, restava pegar a Viação Santo Antônio – com os modernos ônibus Monobloco - e tomar o caminho da Capital, já que naquela época por um capricho do " ancien regime ", não se podia dispor mais do trem que tinha sido desativado de vez, restando apenas uma vaga lembrança mantida pelos trilhos e pelo casario da velha estação da "Central do Brasil", que hoje abriga um Grupamento de Bombeiros Militares.
Muitos conterrâneos ficavam sem entender, já naquela época, e refiro-me ao final da década de setenta, como uma Cidade tão importante como a nossa não apresentava aos seus filhos outras opções de formação em Cursos Superiores. Sempre reclamávamos de tudo e de todos, em especial das velhas oligarquias, culpando-os do nosso atraso econômico. Na verdade, alguém tinha que ser o para-raio das nossas lamúrias. Pensávamos que, deixar a comodidade da família, a nossa turma de amigos e o velho Arraial, para partir em busca de uma formação universitária, era por demais penoso. Que o digam os nossos pais, quantos sacrifícios pessoais e familiares para ver o filho (a) formado (a). Não era nada fácil, naqueles tempos, concluir um Curso Superior fora do aconchego do lar...
Atualmente, venho acompanhando uma verdadeira batalha campal que se desenrola no nosso Torrão Natal: a criação do Curso de Medicina no campus da Saúde, na Universidade do Vale do Jequitinhonha e do Mucuri.
Não posso deixar de mencionar que esta luta se desdobra em várias frentes e têm vários capítulos conforme relatam os conterrâneos. Todos já o sabem e bem.
Inegável, o esforço que vários vêm desempenhando no afã de reverter e superar a tentativa de outra Cidade em implantar este importante Curso na sua localidade.
É difícil entender como a nossa Diamantina, rica em tradições, berço de ilustres personalidades, com reconhecido destaque nas artes, literatura e na política nacional, ainda não tem um Curso de Medicina freqüentando o campus da Saúde.
Há vários fatores que conspiram a nosso favor para a implantação deste Curso, e, sem dúvida, o que representa um divisor de águas nesta discussão é o fato incontestável de já existir uma estrutura material e humana no campus da Saúde em Diamantina que, segundo os indicadores oficiais, viabiliza a implantação deste Curso sem maiores gastos e percalços. É possível, em face disto, fazer uma natural adequação aos Cursos já em funcionamento, contando de imediato com atividades de Extensão e Pesquisa, aliás, ambas de excelente qualidade, conforme asseguram os dados oficiais do MEC, em avaliação recente.
Não poderia deixar de registrar que desde a época da antiga Faculdade de Odontologia até a atual Universidade houve uma longa preparação e formação técnica no campo da Saúde para a chegada deste Curso de Medicina. Que o digam os professores, ex-alunos, alunos e servidores da Universidade, sendo, portanto, o ambiente propício para a Instalação e permanência deste novo Curso.
Desculpem-me os outros que reivindicam a criação e manutenção deste Curso em outros confins, mas por nossa vocação para a cultura ser mais densa e ampla, por si só já autoriza nossa pretensão. Basta um pequeno giro pela história de Minas e do Brasil para se constatar que, além das nossas tradições reunimos também todas as condições técnicas para abrigar e expandir este novo Curso tão importante para a vida dos nossos Vales.