sábado, 15 de agosto de 2009

Araguaia 1972

I
Altar selvagem e imolador do sacrifício da liberdade,
Que ousou elevar o grito pátrio, firme e descontente,
Nas matas, nos rios, tênues limbos da voz da verdade,
Embora inglório, germinou a insólita e débil semente.
Que o ultimo estertor da morte talvez jamais florescerá.
II
Liberdade. Abri vossas formosas asas sobre nós!
Pois a livre juventude ainda não pode morrer em vão,
Nem teme a fúria que vislumbra o vil destino atroz,
E assim dilacera em teu peito a chama da rebelião,
Em inútil agonia que a história um dia postergará.
III
Oníricos atos valentes de uma vã e quimera loucura,
Que ceifou vorazmente teus corpos e mentes juvenis,
Na ânsia desvairada, incerta, quixotesca e tão imatura.
Amortalha o sangue derramado as infindas terras gentis,
Que agora matizam a insensata rebeldia da cabloca luta.
IV
Quem lembrará de vossas faces famintas e cansadas?
Do corpo frágil que tomba inerte na odiosa ignomia,
Com as mãos crispadas em preces surdas e inacabadas?
Nas feridas da tortura que abrem as chagas da covardia,
Serão os mártires de uma causa perdida que ainda perdura.
V
Rauls, Dinas, Chicos, Oswaldos, Drs. Jucas, Lias ,Walks e Piauís.
Ressoam nas matas teus nomes como cantos em angustiosos lamentos.
Serão tuas vozes agora o clamor dos pássaros, macacos, cobras e jabutis,
Como libelos contra a repressão e carpir lacerante dos infindos tormentos?
Remoei algozes da infâmia e reles sicários dementes da odiosa ditadura!
VI
Todos quedaram-se ao solo como a ultima bandeira da guerrilha inglória,
Sem jamais pedir mercê ou alquebrar-se pusilâmine à traiçoeira rendição.
Teus corpos ainda incertos e insepultos jazem inertes na mata e na memória,
Como vivos estandartes de suas vidas em suplicio de um ato de insurreição,
Neste imenso verde túmulo, nesta campa gloriosa e bela chamada Araguaia.
VII
Oh Pátria Mãe Gentil. Olhai dantes por vossos filhos que por ti pereceram.
Não deixes nunca que as odiosas sombras encubram impunes teus paradeiros,
E enxugue as lágrimas maternais dos que ainda os amam, sofrem e choram.
Abrigue-os como eternos epitáfios no amado recanto dos teus pátrios seios.
E permanecerão sempre lembrados como um corte lacerante de tua vil alfaia.
William Spangler